Normas brasileiras de acústica estão em fase final de consulta

Título | Normas brasileiras de acústica estão em fase final de consulta
Entrevistado | Eng. Krisdany Cavalcante – Coordenador da CE-02:135.01 Desempenho de Edificações
Autora | Heloisa Medeiros, assessora de imprensa ProAcústica
Fonte | Portal ProAcústica

Normas brasileiras de acústica estão em fase final de consulta

Finalmente, o processo de revisão das normas brasileiras de acústica, a NBR 10.151 e a NBR 10.152, foi concluído. A ProAcústica está orientando as empresas associadas sobre a consulta pública da ABNT, cuja data limite para votação é 10/12/12. Espera-se que as novas normas sejam publicadas no início de 2013. As constantes mudanças no cenário acústico nas cidades brasileiras e o desenvolvimento tecnológico do setor, com entrada de novos materiais e sistemas, sinalizavam a necessidade de mudança. Os textos das normativas foram significativamente alterados.

Em um prazo apertado, de três meses, os trabalhos de revisão foram acelerados por meio de um plano de trabalho diferenciado, com reuniões de dois dias consecutivos a cada encontro, de modo que a conclusão dos trabalhos se deu no prazo previsto. O coordenador da Comissão de Estudo de Desempenho de Edificações (CE-02: 135.01), do Comitê Brasileiro da Construção Civil (CB-02), da ABNT, engenheiro Krisdany Cavalcante, fala nessa entrevista sobre as principais mudanças nas normas de acústica nacionais. Segundo ele, foi um trabalho intenso e dedicado de todos os membros da comissão, com participação dos profissionais mais renomados e reconhecidos no Brasil e internacionalmente.

A revisão da NBR 10.151 e da NBR 10.152 finalmente atualiza as principais normas de acústica do país?

Uma norma técnica tem por prerrogativa ser atual. Neste aspecto, a ABNT, periodicamente, realiza consulta pública sobre a manutenção, revisão ou cancelamento de suas normas técnicas. O resultado da consulta nacional realizada para as normas ABNT NBR 10151 e NBR 10152 indicou necessidade revisá-las.

O que achou do prazo relativamente curto, três meses, para apresentar os textos das normas? Isso chegou a atrapalhar o aperfeiçoamento das normas?

A Comissão de Desempenho Acústico de Edificações trabalhou nos últimos anos na elaboração dos preceitos para a revisão dessas duas normas. Ocorre que havia um prazo para apresentação dos projetos, sob o risco delas serem canceladas. Quando assumi a coordenação da comissão, este ano, estávamos a apenas 90 dias de findar esse prazo. Assim, para que pudéssemos acelerar nossos trabalhos, a Sociedade Brasileira de Acústica elaborou e apresentou um plano de trabalho diferenciado, com reuniões de dois dias consecutivos a cada encontro, de modo a assegurarmos a conclusão dos trabalhos no prazo previsto, além de ter indicado à ABNT o meu nome e o da Dra. Elcione para a Coordenação e Secretaria da comissão. Nosso nome e o plano de trabalho foram aceitos pelos membros e conseguimos fechar dois excelentes projetos. Não diria que o prazo atrapalhou, ao contrário. Como esta é uma atividade voluntária e que envolve um número grande de especialistas, resgatamos os pontos convergentes e focamos nas soluções das questões pendentes, construindo os projetos que hoje se encontram em consulta nacional.

Quais pontos foram mudados e o que foi acrescentado no texto da NBR 10151 – Acústica – Medição e avaliação de níveis de pressão sonora em ambientes externos às edificações?

O projeto apresenta uma estrutura moderna e didática, de modo a proporcionar harmonia entre os trabalhos que serão desenvolvidos pelos profissionais que utilizam essa norma. Na elaboração do projeto, consideramos as diferentes demandas de aplicação, que vão desde as atividades de fiscalização de poluição sonora executadas pelas prefeituras, até estudos de acústica ambiental para empreendimentos industriais e edificações urbanas, desenvolvidos por engenheiros, físicos, arquitetos e urbanistas especialistas em acústica.

Por que ocorreram modificações nas medições da NBR 10151?

A versão atualmente em vigor foi publicada em 2000, quando o contexto de aplicação era bem diferente da realidade hoje. Até há pouco tempo, um estudo de impacto acústico ambiental era realizado de acordo com demandas pontuais de alguns empreendimentos, ou na apuração de denúncias de poluição sonora. Hoje a acústica está no foco da população e dos consumidores. O empreendedor se preocupa em com o impacto sonoro causado, mesmo nos casos em que os critérios legais são mais brandos, a fim de preservar a imagem institucional de sua empresa. Já o consumidor indaga aos fabricantes e às construtoras sobre os ruídos e o conforto acústico dos imóveis. Por outro lado, a população em geral está mais exigente, cobrando do poder público ações mais rápidas e concretas nos casos de poluição sonora. Paralelo a tudo isso, o acesso às informações, pela mídia tradicional e pela internet, é completamente diferente. O mesmo ocorreu com as ferramentas técnicas, de software e instrumentação. Assim, não havia mais condição de continuarmos trabalhando com a norma de 12 anos atrás.

Por que os parâmetros indicadores da NBR 10151 mudaram para valores alinhados com as normas ISO 1996?

Procuramos harmonizar os símbolos, termos e definições entre a ABNT NBR 10151, NBR 10152 e a ISO 1996, de modo a possibilitar a aplicação conjunta dessas normas, quando for o caso. Como a versão da ABNT NBR 10151:2000 é muito sucinta, muitos trabalhos vinham sendo desenvolvidos com base em normas internacionais. Além disso, vamos concluir o trabalho de versão para publicação da ABNT NBR ISO 1996 em breve.

A terminologia e os procedimentos de avaliação da NBR 10151 foram modificados. Quais as mudanças?

O projeto prevê três metodologias diferentes a serem adotadas, em função do tipo de aplicação. Um método simplificado, mais indicado para avaliações de queixas de poluição sonora, dirigido a fiscais de secretarias de meio ambiente. Um método detalhado, para estudos de impacto sonoro ambiental de empreendimentos, a ser adotado por especialistas. E um método de monitoramento de longos períodos, a ser utilizado em estações fixas de monitoramento e em estudos de planejamento acústico urbano.

Por que mudou a terminologia que define o instrumento de medição, de decibelímetro para sonômetro?

O termo popular decibelímetro é incorreto tecnicamente. Não se mede decibel, pois Bel não é uma grandeza. Por isso, a comissão decidiu harmonizar essa terminologia ao termo usado internacionalmente. Por exemplo, nas normas IEC publicadas, os instrumentos são denominados sound level meters, em inglês, e sonomètres, em francês (www.iec.ch).  Em espanhol é sonómetro e em Portugal é sonômetro, adotado na NP ISO 1996 (www.ipq.pt). O termo sonômetro tem origem em son(ô)+metro, onde som = sonu(latim), metro=metru(latim) e medição=métron(grego). Essa é, portanto, a terminologia correta.

Por que as terminologias ruído de fundo e ruído ambiente devem ser agora descritas como som residual?

Ruído é um termo popularmente adotado. Procuramos adotar como padrão técnico o termo som. Na versão de 2000 a ABNT NBR 10151 já não adotava o termo “ruído de fundo”. O termo “som residual” está definido e apresentado na ISO 1996. Assim, decidimos adotar o termo técnico, em harmonia com essa norma internacional.

Por que foi acrescentado um capitulo específico que trata das incertezas nas medições? Qual a importância disso?

Em metrologia, um resultado deve ser expresso associado a um grau de incerteza. Por isso, decidimos adotar como referência a ISO GUM. Consideramos também que o método apresentado para o cálculo de incerteza de medição na ISO 1996-2 não deveria ser obrigatório. Assim, no anexo, optamos, por uma proposta mais simples, necessária à apresentação dos resultados de medição associados aos seus respectivos graus de incerteza.

Por que as medições passaram a ser feitas apenas no interior das edificações no novo texto da NBR 10152?

A ABNT NBR 10152 sempre foi uma norma exclusiva para medições e avaliações em ambientes internos de uma edificação. Uma premissa antiga da comissão era a de revisar as normas e separar as duas em função do campo sonoro onde a medição se realiza. Em ambientes ao ar livre (outdoor) se aplica a ABNT NBR 10151. Em ambientes internos, numa edificação (indoor) a ABNT NBR 10152.
 
Por que foi incorporada uma tabela mais completa, baseada em normas internacionais, sobre os valores de limites sonoros recomendados como ideais para projeto, de acordo com o tipo de espaço e finalidade de uso?

A ABNT NBR 10152 foi publicada em 1987. Hoje não existem mais ambientes descritos nesta versão, como “salas de mecanografia” e “sala de computadores”. Era evidente a necessidade de relacionar e estabelecer parâmetros para ambientes atuais.

As duas normas estão em Consulta Nacional até dia 10 de dezembro. Quais as expectativas referentes a sugestões e mudanças no texto? Quando as novas versões dessas normas devem ser definitivamente publicadas?

Esperamos obter apoio aos textos apresentados. Foi um trabalho intenso e dedicado de todos os membros da comissão, com participação das principais instituições e dos profissionais mais renomados e reconhecidos no Brasil e internacionalmente. Nosso trabalho está apenas começando. Aprovados os projetos, poderemos nos dedicar, em 2013, à elaboração de novas normas técnicas sobre acústica de edificações, acústica ambiental e acústica de sistemas de transporte. Destaco que este trabalho só foi possível com o empenho de todos e com o apoio de todas as instituições membros, como a ABNT, ProAcústica e Sobrac, comprometidas com o mesmo objetivo.