Cresce a atenção das incorporadoras e construtoras com o conforto acústico, mas poucas usam o investimento em proteção como apelo de marketing

Existem três níveis de atendimento indicados pela Norma de Desempenho ABNT NBR 15575 e, no momento, poucas construtoras estão projetando edifícios para o nível intermediário ou superior. A maioria ainda busca o nível mínimo obrigatório e isso tira a força do marketing. Construir prédios residenciais em níveis de isolamento acústico superiores faria uma enorme diferença em relação à concorrência. O crescimento de lançamentos imobiliários em regiões barulhentas, como o Centro, as avenidas Rebouças e Faria Lima, em São Paulo, faz parte de um movimento mais otimista com relação à uma retomada econômica. Dessa leva fazem parte edifícios multiusos, que vão demandar projeto de acústica que têm que seguir a norma para garantir a salubridade ao usuário.

Regiões Barulhentas

Foto: Divulgação

A norma de desempenho que contempla capítulos sobre acústica, completou cinco anos de vigência mas ainda não dá para comprovar uma demanda firme por produtos imobiliários protegidos da poluição sonora urbana. Por um lado, o poder público não faz muita coisa para mudar o panorama do ruído urbano mas, daqui há dez ou quinze anos, qual será o valor de um imóvel residencial favorecido pelo privilégio acústico?

Para o arquiteto Fernando Alcoragi, Vice-Presidente do Conselho Administrativo da ProAcústica, “o consumidor, de forma geral, não está informado sobre as questões de conforto acústico no interior do imóvel. Não sabe e, se souber, vai ficar preocupado”. O arquiteto identifica uma postura tímida das incorporadoras e construtoras com relação à acústica que “não é usada como apelo de marketing”.

Na opinião de Marcos Holtz, Vice-Presidente de Atividades Técnicas da ProAcústica, no momento em que a acústica invadir o radar das incorporadoras, será necessário “informar o nível de isolamento acústico do imóvel, o que faria uma enorme diferença em relação à concorrência. Como existem três níveis de atendimento indicados pela Norma de Desempenho NBR 15575, esclarecer qual nível está sendo atendido tende a agregar um valor incalculável ao imóvel. No momento, poucas construtoras estão projetando edifícios para o nível intermediário ou superior. Porém, a maioria ainda busca o nível mínimo obrigatório de atendimento e isto pode não ser positivo para o marketing”.

O crescimento da economia abaixo do esperado, com as respectivas revisões das projeções de crescimento do PIB, e a demora em derrubar a liminar que suspendeu por quase três meses o “direito de protocolo” anterior à nova Lei de Zoneamento criou um descompasso que acabou forçando as incorporadoras a postergar lançamentos. O crescimento de lançamentos imobiliários em regiões barulhentas, como o Centro, as avenidas Rebouças e Faria Lima, em São Paulo, faz parte de um movimento anterior, mais otimista com relação à uma retomada econômica. Dessa leva fazem parte projetos lançados em formato multiusos. O Plano Diretor de São Paulo, aprovado em 2014, na gestão do prefeito Fernando Haddad (PT), tende a reorganizar os vetores de crescimento da cidade. O código incentiva a construção de edifícios com torres residenciais e comércio. Mas só no ano passado, os primeiros projetos concebidos sob tais diretrizes saíram do papel, na capital paulista.

Regiões Barulhentas

Foto: MPD & Helbor (Wide)                                 Foto: SETIN (Downtown Praça da República)

Segundo a arquiteta Grazzieli Gomes Rocha, da Aflalo Gasperini, “o uso misto tem esse poder de requalificar uma região”. O projeto de acústica segue a norma, custa um pouco mais nos acabamentos mas garante salubridade ao usuário. Para a arquiteta, “a construção de torres altas que refletem o som pode exigir estudos posteriores”.

É antes da obra que os consultores realizam a campanha de medição sonora do entorno. Na avenida Rebouças, por exemplo, uma análise identifica pontos de ônibus, ruídos de superfície e monta a paisagem sonora entre dois e quatro quarteirões, onde o empreendimento será erguido. No caso de uma avenida como a Faria Lima, precisa levar em conta a incidência de ruído aéreo na região sob o cone de aproximação do aeroporto para aterrissagens e decolagens. A partir desses dados, o projeto acústico começa a definir qual o sistema será usado em cada fachada. E, a partir disso, o projetista de fachada vai calcular os esforços ao vento, estanqueidade e iluminação.

No caso dos imóveis comerciais, essa preocupação com conforto sonoro parece mais evidente. Já um edifício de alto padrão revela que o mercado de projetos acústicos residenciais tem um caminho pela frente. Para o padrão médio identifica-se um ganho de escala junto à indústria de materiais e sistemas construtivos para a proteção acústica, com o aumento de incorporações em ruas e avenidas de grande tráfego em bairros como Itaim e Vila Olímpia. As incorporadoras ainda comemoram o aumento do potencial construtivo nos eixos estruturantes da cidade (com concentração de estações do metrô e vias de transporte público) e intensificam a construção no Centro de São Paulo.

Regiões Barulhentas

Foto: Divulgação

Na Praça da República, um empreendimento recém-lançado com unidades de 24 a 50 m2, com sala e dormitório, foram atendidas por conforto acústico por meio de pele de vidro, com referenciais superiores à norma que exige apenas proteção no quarto. De acordo com a incorporadora, além da contratação de consultor que fornece laudos de acústica e conforto visual utilizam padrões de alvenaria que aumentam o isolamento acústico dos apartamentos.

Já imóveis localizados em regiões com alto grau de poluição sonora e próximos a aeroportos, muitas  vezes as construtoras optam por caixilharia especial e alvenaria (com blocos de concreto e revestimento de 3,5 centímetros).

O combate contra o desconforto auditivo atua em várias frentes mas um dos mais desafiadores são os ruídos aéreos. Segundo José Carlos Giner, Vice-Presidente de Recursos Associativos da ProAcústica, “em projetos próximos a essas áreas, realizamos um mapa de ruído no entorno do terreno e, por meio de simulações de desempenho no software SONarchitect, determinamos o isolamento acústico necessário para cada fachada da futura edificação”. Em um de seus projetos, na Vila Olímpia, Giner realizou simulações e ensaios in loco para isolar os ruídos oriundos dos aviões. Em algumas situações, próximas à rampa de Congonhas, por exemplo, está desenvolvendo um caixilho em conjunto com o fornecedor para conseguir isolar os sons do tráfego aéreo.