Uma história que completa 40 anos

Uma trajetória profissional de 63 anos junto à indústria, arquitetura e engenharia. Esse é o histórico de Schaia Akkerman, que estudou engenharia mecânica eletricista, em 1952 e, engenharia civil, em 1955, na Politécnica da USP. Em 1954, começou a trabalhar no departamento de Energia Elétrica Estadual e ingressou na indústria de materiais de construção, nas áreas de acústica e térmica. A empresa própria, a Acústica Engenharia, surge em 1977, em sociedade com arquitetos. Schaia participou da elaboração de inúmeras normas junto à ABNT, à prefeitura de São Paulo, à Cetesb e ao Conselho Nacional do Meio Ambiente da Secretaria do Meio Ambiente. Produziu cerca de 5 mil projetos de acústica e controle de ruídos para fábricas, residências, teatros, cinemas, aeroportos, escolas, escritórios, hotéis e hospitais. É membro das entidades americanas Acoustical Society of America e Institute of Noise Control Engineering e sócio fundador da ProAcústica, Associação Brasileira para a Qualidade Acústica.

A Acústica Engenharia (Akkerman Alcoragi Acústica Ideal) ostenta um portfólio com nomes expressivos do empresariado brasileiro. Ao lado dos diretores, os arquitetos Sergio José Akkerman, Fernando Medeiros Alcoragi e Cláudio Makoto Ando, o fundador da Akkerman Alcoragi fazem projetos de controle de ambientes, medições sonoras e simulação eletrônica de cenários, com software de última geração. Durante a entrevista, Akkerman lembrou de projetos como o teatro Abril Paramount, com arquitetura de Aflalo Gasperini. Lá foi executada a acústica de interiores e a proteção do ruído externo; do banco Safra, com acústica das fachadas e conforto interno, entre 1990 e 2017; e do hospital Samaritano, situado entre edifícios residenciais, o que exigiu tratamento acústico para não perturbar os vizinhos.

O senhor e o seu escritório promoveram a publicação de dois livros – Acústica, Questão Ambiental e Akkerman Alcoragi Acústica Ideal. Poderia falar sobre as ideias, discussões e a repercussão dos livros?

Estes dois livros exibem com bastante clareza a posição elevada que a empresa Acústica Engenharia (Akkerman Alcoragi Acústica Ideal) ocupa no cenário das soluções acústicas que o mercado solicita. As publicações foram muito significativas pois os exemplares se esgotaram. Uma experiência de 40 anos em acústica está nesses livros para ser entendida.

Com tanto tempo de experiência, o senhor acompanhou as mudanças tecnológicas ao longo de meio século. Qual era a situação da acústica em 1977?

Em 1977, poucos empresários se interessavam em soluções acústicas nas edificações da construção civil. Até o ano 2000, era reduzido o número de empresas que produziam materiais para serem utilizados em obras. Já existiam a lã de vidro, lã de rocha e a fibra de madeira. Com o advento mais intenso da industrialização e abertura de mercado para os importados, o cenário mudou e hoje temos grande procura de soluções para conforto: bem-estar, sigilo, saúde, privacidade ou lazer em áreas ocupadas pelo homem.

E a indústria de produtos e materiais acústicos? Como evoluiu nesses 40 anos?

A evolução possibilitou aperfeiçoar paredes acústicas em drywall e materiais como fibras de borracha e sanduíches de madeira com placas de cimento. Foram abolidos produtos tóxicos e combustíveis como asbestos. Apareceram produtos como lã de PET (polietileno tereftalato), sprays de produtos incombustíveis e produtos de laminados incombustíveis. O surgimento de equipamentos ruidosos como os chillers de ar-condicionado incentivou o mercado de soluções acústicas e de produção de novos materiais para serem aplicadas no controle e na redução dos ruídos e vibrações. Foi assim que evoluiu.

A maioria da população não consegue evitar que o ruído urbano ultrapasse as envasaduras das casas e apartamentos. Em outros países se fala em tecnologias que minimizam esse drama. A Coreia do Sul acaba de anunciar uma janela acústica que não impede a passagem de ar. Que outros exemplos nos daria?

Soluções engenhosas como a redução “ativa” das ondas sonoras fazem com que a geração de uma onda de vibração de moléculas de ar se contrapõem a outra onda em sentido contrário que resulte na redução quase total do som audível. O progresso da tecnologia pode fazer milagres com aperfeiçoamento dessas práticas, inclusive com materiais acústicos recicláveis como de fibras de borracha de pneus e de garrafas de plástico.

Muita coisa mudou, mas a acústica enquanto recurso de conforto continua um privilégio das edificações para um público de maior poder aquisitivo. Isso vai mudar no futuro? Depende só das incorporadoras?

O advento da norma ABNT NBR 15575, de desempenho habitacional, do ano de 2013, possibilitou prever-se o aumento do conforto ambiental nas áreas residenciais, pois o que estava acontecendo com as empresas construtoras era grave. A adoção de lajes de piso de espessuras insuficientes e paredes divisórias de baixo isolamento do som aéreo e som de impacto estava agravando o desconforto, que agora está sendo corrigido.

O senhor já comentou que algumas indústrias, bares ou restaurantes geram um barulho insuportável. Estamos falando de ruído de dentro para fora. Mas e o ruído no interior desses ambientes?

O ruído no interior dos ambientes, que requerem mais atenção quanto à propagação dos sons em locais como escolas, áreas de trabalho e residências, passou, na última década, a ser considerado como um fator importante para a obtenção do conforto e da saúde. A adoção de materiais de construção modernos e apropriados promove a isolação entre ambientes. A absorção sonora obtida pela adoção de forros acústicos também colabora para a diminuição do ruído. E tudo isso incentiva, de forma significativa, a indústria de materiais de aplicação em tetos, pisos e paredes, além de reduzir problemas causados pela vibração de máquinas em geral e as do ar-condicionado.

E a discussão sobre o mapa de ruído na cidade de São Paulo. Qual é a sua visão sobre isso?

O mapa de ruído para cidade de São Paulo é uma reivindicação da sociedade que não está encontrando respaldo por parte dos governantes e políticos. Os problemas econômicos que o País atravessa têm afetado o interesse governamental em efetivar esse procedimento muito importante para a população exposta à geração e propagação dos ruídos dentro e fora das áreas onde habitam e trabalham. O ruído nas ruas, devido ao tráfego, tenderá a ser reduzido com advento dos veículos elétricos. De outra forma, é também um problema político do governo que quer começar e terminar o empreendimento, na ânsia de exibir o mapa como iniciativa e realização desta gestão.

Em São Paulo existe uma lei que proíbe o uso de carros de som publicitário e de áudio em veículos particulares. Nos últimos tempos, os vendedores ambulantes têm instalado geradores na rua para ligar a máquina de espremer suco de laranja. Os problemas de acústica ambiental parecem não ter fim. O que fazer?

O uso de carros de som publicitário e situações semelhantes têm que ser fiscalizada pelas autoridades de governo. Se o governo não tem interesse, a sociedade tem que se mobilizar para reivindicar essa autuação.

Como o senhor encara a total indisciplina do próprio poder público como gerador de ruídos sem controle, como obras públicas e de sistemas de transportes públicos?

É na realidade uma questão de ignorância e despreparo cultural. Os meios de comunicação poderiam ajudar nessa correção.

Pensando na formação de novos profissionais para a área de acústica, qual a sua recomendação para um estudante interessado em uma especialização? Qual a formação ideal? Quais os cursos complementares? No Brasil ou no exterior?

Os novos profissionais no campo da acústica encontram várias alternativas de cursos com especialização no Brasil, tais como a Universidade de Santa Maria, Universidade do Vale do Rio dos Sinos, as duas no Rio Grande do Sul; a Universidade de Santa Catarina, em Florianópolis, Santa Catarina; e os cursos livres da USP aqui em São Paulo. As oportunidades de realização desses cursos oferecem os conhecimentos necessários para a formação acústica e de controle de vibrações que exigem dedicação plena durante dois a três anos. Vêm se formando assim, profissionais de alta qualidade no campo da acústica urbana e ambiental residencial, industrial e no tráfego de veículos aéreos e de superfície. Não há necessidade de ir estudar no exterior para adquirir capacitação profissional acústica. O que precisa é força de vontade de querer estudar a sério e de forma participativa.