Norma de Desempenho para Edifícios Habitacionais é um grande avanço em relação à Acústica no Brasil

Juan Frias Pierrard, consultor técnico da ProAcústica, fala nesta segunda parte de sua entrevista sobre o mercado de Acústica no Brasil, a respeito da Norma de Desempenho e seus impactos no setor de construção de edificações habitacionais.

O engenheiro acústico Juan Frias Pierrard, consultor técnico da ProAcústica e sócio diretor da Bracústica Consultoria, já havia feito considerações, na edição anterior do ProAcústica News, a respeito de acústica ambiental e urbana. Nesta segunda parte de sua entrevista ele fala sobre a acústica em edificações e a Norma de Desempenho, que completa pouco mais de um ano em vigência no Brasil.

E lembra que apesar de os níveis mínimos não serem os mais adequados para garantir o conforto, a NBR 15.575 constitui um grande avanço em relação à situação anterior. Muitas empresas agora estão cientes das exigências e procuram fazer ensaios acústicos em seus empreendimentos para validar as soluções de melhor desempenho acústico, ou implantar ações de melhoria para os novos projetos, a fim de atender à norma.

Porém, alerta Pierrard, há ainda muitas questões a serem enfrentadas pelo mercado de edificações. Uma delas é o grande desconhecimento da Acústica no país, uma barreira que precisa ser ultrapassada. Para ele, a ProAcústica vem cumprindo esse papel, orientando o mercado e zelando pelas boas práticas, acima dos interesses particulares das empresas. “Desde sua criação há pouco mais de três anos, a associação tem conseguido grandes conquistas, convertendo-se em uma referência na área, e sendo reconhecida por todas as associações da construção civil”. Leia a entrevista de Pierrard sobre as questões ainda pendentes relativas à NBR 15.575 e como o mercado deve adaptar-se para atender aos seus requisitos.

Qual a importância da Norma de Desempenho (NBR 15.575) que completou um ano em vigor, em julho? O mercado de construção civil está cumprindo a norma?

Apesar de os níveis mínimos não serem os adequados para garantir o conforto, a norma constitui um grande avanço em relação à situação anterior. Muitas empresas agora estão cientes das exigências e fazem ensaios acústicos em empreendimentos para validar suas soluções, ou implantar ações de melhoria para os novos projetos, que deverão atender a norma.

Quais as principais dificuldades encontradas pelas construtoras na implementação dos requisitos de Acústica da Norma de Desempenho? 

O isolamento acústico de fachadas é o item menos atendido, pelo fato de que, tradicionalmente, a janela não ser considerada um elemento acústico na maior parte dos edifícios residenciais. Além disso, existem muitas deficiências em sua instalação que acabam prejudicando os desempenhos. O setor é muito pulverizado e o processo de fabricação é pouco industrializado, salvo algumas exceções. Mas a associações de fabricantes estão se empenhando para a melhoria dos produtos. Porém, no Brasil, ainda são poucas as esquadrias que possuem laudos de isolamento acústico que certificam seu desempenho. Por isso, o mercado deve procurar especificar janelas que demonstrem seu desempenho por meio de ensaios.

Qual a importância da comprovação, por meio de ensaios, do desempenho de materiais e produtos de acústica? Como o setor deve fazer para caracterizar seus produtos e sistemas?

É de vital importância para o mercado. Não é comum se fazer esses tipos de ensaios no país, mas eles são necessários para completar o círculo virtuoso do desempenho, já que são uma garantia para os compradores de que o produto atenderá o desempenho especificado no projeto. Atualmente, esses ensaios constituem um diferencial, porém, num futuro próximo, serão uma obrigação para vender com confiabilidade para o cliente.

É fato que muitos fornecedores não têm realizado ensaios de isolamento acústico, em câmaras padronizadas, porque a oferta é pequena para a grande demanda existente. E muitos deles nem sabem o que é necessário solicitar. Por isso, acho que o papel das associações aqui é fundamental, tanto para desenvolver normas que harmonizem os produtos e selos de desempenho, como para treinar aos departamentos técnicos das empresas sobre as implicações da Norma de Desempenho. Além disso, essas entidades podem coordenar baterias de ensaios dos produtos de seus associados, que seriam muito complicados se fossem realizados de forma individual.

O ruído de impacto nas lajes em edifícios multiandares, uma das principais queixas dos consumidores, será resolvido com a norma? O contrapiso flutuante é uma boa solução? Quais os cuidados para que seja eficiente?

Acredito que não será resolvido em caso do nível mínimo da norma, devido ao requisito mais permissivo, pois ele se afasta dos padrões internacionais, que atendem, em muitos casos, sem necessidade de contrapiso flutuante. A instalação do contrapiso flutuante permite atender, com uma grande margem, o nível intermediário de desempenho. Porém, estes devem ser  previstos em projeto e instalados por pessoal especializado, já que qualquer erro pode produzir uma união rígida entre a estrutura do edifício e o contrapiso, afetando  o desempenho. É bom lembrar ainda que uma solução posterior, geralmente, é muito complexa e cara.

Como deverão ser realizadas as medições de ruído antes e depois da implantação do empreendimento? É importante fazer um levantamento do ruído ambiental, determinando as principais fontes existentes na área do empreendimento?

Com certeza é importante caracterizar o ambiente acústico onde vai ser construído o empreendimento, o que facilitará o dimensionamento do isolamento acústico da fachada. Essa caracterização pode ser realizada com medições e/ou simulações, porém sempre partindo do bom senso para que esse isolamento acústico seja adequado para atender a norma e garantir um mínimo de conforto. O desejável seria a norma fixar um mínimo de isolamento acústico em função do nível de ruído externo. Porém, isso ficou em certa medida aberto à subjetividade, em função da distância das fontes de ruído. Por isso, no manual da ProAcústica recomendamos que o isolamento deve ser dimensionado para os diferentes níveis de ruído externo.

O que deve ser levado em consideração no dimensionamento acústico das vedações verticais internas e externas, dos sistemas de pisos, coberturas etc.?

Com o objetivo é desempenho do edifício pronto, não devemos apenas considerar o  desempenho do elemento separador, mas também as transmissões laterais dos elementos de contorno que podem reduzir o desempenho acústico do conjunto. Também devem ser consideradas as uniões entre elementos construtivos e as geometrias dos cômodos. No caso de esses fatores não serem considerados, é possível ocorrerem surpresas no final, ao se descobrir que o isolamento entre dois cômodos é muito diferente do elemento de separação entre eles.

Como você vê o papel da ProAcústica no aperfeiçoamento da acústica ambiental e nas edificações no Brasil?

A acústica é uma área bem desconhecida no mercado brasileiro, e por isso precisa de uma associação forte que zele pelas boas práticas e faça uma divulgação acima dos interesses particulares das empresas. Desde sua criação há pouco mais de três anos, a associação tem conseguido grandes conquistas, convertendo-se em uma referência na área, e sendo reconhecida por todas as associações da construção civil. Suas iniciativas, como a defesa do mapeamento acústico de São Paulo, que há dois anos parecia uma utopia é uma delas. O tema vem sendo muito bem encaminhado pela ProAcústica junto ao poder público, especialmente na Câmara Municipal de São Paulo, que conta com um grupo de estudos específico, e pelo visto vamos precisar de muito trabalho para dar resposta a todos esses desafios.