Presidente do SindusconDF aborda os impactos dos parâmetros da acústica no setor da indústria e mercado da construção

A cadeia da indústria da construção busca aprimorar processos e soluções para alcançar os melhores patamares em produtos com desempenho acústico. O desafio atual é criar alternativas para a crise econômica e o baixo investimento, bem como aliá-las a um setor que exige produtividade, qualidade, baixo custo de produção, sustentabilidade, agilidade operacional e adaptação aos requisitos da ABNT NBR 15575.

Para tratar sobre o contexto atual da acústica no setor de incorporação e construção, o ProAcústica News entrevistou Dionyzio Antonio Martins Klavdianos, presidente do Sindicato da Indústria da Construção Civil do Distrito Federal (Sinduscon DF) e vice-presidente da Comissão de Materiais, Tecnologia, Qualidade e Produtividade da Câmara Brasileira da Indústria da Construção – Comat/CBIC.

Klavdianos é diretor técnico da Itebra Construções e Instalações Técnicas Ltda., empresa fundada em 1973. Na Comat/CBIC ele atua para desenvolver ações e buscar soluções no campo dos materiais, sistemas construtivos, equipamentos e serviços. O objetivo é que as iniciativas resultem em melhoria da produtividade, da gestão da qualidade e da inovação tecnológica para as empresas da construção civil.

Desde julho de 2013, quando a NBR 15575 entrou em vigor, quais foram os avanços em instrumentos  para a melhoria da especificação, do projeto e da construção, no que diz respeito ao conforto acústico das edificações?

O parâmetro de acústica foi, dentre os oito abordados pela NBR 15575, o que certamente ganhou maior destaque midiático e os impactos causados ao cliente final fizeram com que a indústria investisse prontamente em materiais, elementos e sistemas, tanto de isolamento propriamente dito, como mantas, quanto na melhoria de esquadrias e elementos de vedação. Da parte dos construtores, passou-se a investir em medições em obra para certificação do desempenho das opções escolhidas. Concomitantemente, as ações citadas, consultorias especializadas e ensaios laboratoriais específicos do parâmetro foram acentuadamente solicitados.

Quais as dificuldades das construtoras em incorporar as soluções acústicas no dia a dia de seus projetos e obras para atender o que prescreve a norma?

O desconhecimento generalizado das normas específicas de acústica, da existência e da forma de contratação de ensaios laboratoriais e consultorias especializadas, a inobservância por parte de consultorias e laboratórios do atendimento às normas técnicas específicas de ensaios, o que causou perda de tempo e dinheiro em ensaios de nenhuma valia técnica.

Como o senhor enxerga o envolvimento dos agentes do mercado na incorporação efetiva da cultura de qualidade em conforto acústico, após esses anos?

Restringindo o comentário ao que convencionamos tratar-se de construção formal e legal, não resta dúvidas que o envolvimento vem num crescente à medida que a compreensão acerca dos princípios que norteiam a NBR 15575 se consolidam, as normas técnicas de acústica se atualizam, o mercado passa a oferecer materiais, elementos e sistemas de desempenho efetivo a custos mais viáveis. Cito, também, o fato de que ter sido o parâmetro mais solicitado a partir da entrada em vigor da NBR 15575, criou um caldo de cultura muito rico em torno do parâmetro, daí a evolução tornasse natural e recorrente.

Com relação à indústria fornecedora da construção civil, houve aprimoramento na caracterização de seus produtos e sistemas, por meio de ensaios que demonstrem efetivamente o desempenho?

É possível que, em função de fatores já mencionados acima, em termos de aprimoramento técnico, o segmento da acústica tenha sido o que mais evoluiu. O fato dos produtos de acústica serem intensamente utilizados em processos construtivos inovadores, preponderantemente utilizado na construção formal e de maior valor, contribuiu para maior evolução e aprimoramento de seus produtos e sistemas.

Qual foi a evolução no segmento de soluções acústicas após a implementação da Norma de Desempenho para o mercado de edificações?

Conforme já dei a entender nas demais respostas, foi o segmento que mais apresentou evolução e, melhor, provavelmente foi o mais praticado, consequentemente terá sido o que mais se tornou conhecido, o que mais contribui ainda para a difusão de conhecimento sobre o segmento. Agora, na revisão da referida norma técnica, este fato contribuirá para que eventuais revisões do texto concernente ao tema sejam efetivas.

Sobre a regionalização da NBR 15575, isto é, a norma está sendo adotada em todas as regiões do Brasil ou há regiões onde as construtoras não a incorporam em todos os seus aspectos?

A percepção que temos na Comat CBIC é que a norma está sendo adotada em todas as regiões do país. Mas está claro também que nas regiões ou mercados onde há maior número de construtoras e fornecedores em condições de investir – densidade laboratorial, proximidade com instituições de ensino e capacitação técnica -, a assimilação dos princípios da norma técnica é superior.

De acordo com um estudo do Secovi, um projeto de isolamento acústico representa, em média, 0,5% do orçamento final da obra. O mercado como um todo, hoje, entende essa importância como custo ou investimento?

A qualquer construtor do mercado formal, que tenha claro que o lucro do negócio passa necessariamente pela satisfação do cliente deve entender que trata-se de investimento, do contrário não se firmará mais ou então estará fadado a atuar num mercado onde o preço é mais valorizado do que a qualidade.

O que falta para a cultura da qualidade acústica em edificações ser vista por toda cadeia produtiva da construção e usuários como algo essencial? Nesse sentido, o senhor acha que a sociedade vem tomando consciência do seu direito ao conforto acústico dentro de casa ou no trabalho?

O construtor formal brasileiro padrão ainda é bastante azucrinado com custos indiretos que o impedem de focar naquilo que seria o coração de sua empresa, investir em qualidade técnica, produtividade, melhoria de desempenho. Esta situação ainda é mais grave para o pequeno construtor – 95% do total de construtores do país que, de forma geral precisa se preocupar mais com sua sobrevivência que com evolução -, este fato atrapalha a disseminação da cultura de qualidade como um todo e não apenas a acústica. A ação integrada de instituições representativas de cada segmento com instituições de ensino e pesquisa podem, com o passar dos tempos, ir alterando esta cultura, tornar competitivos os preços dos bons materiais e sistemas, coibir energicamente a ilegalidade e não conformidade de materiais. E, ainda, dar esclarecimentos à sociedade como um todo e ao cliente de imóvel em particular que privilegie o bom produto e despreze aquele que implique em perda da qualidade e desempenho.

Como a cadeia produtiva da construção civil pode usufruir dos conceitos de acústica básica, presentes no novo Manual da ProAcústica, para incentivar a aplicação de soluções acústicas aplicadas ao setor da construção?  

O manual em questão é introdutório. Aquele que através dele opta por aprofundar sobre o tema deverá aprimorar seus rudimentos através de enriquecimento em termos de bibliografia especializada, aquisição de normas técnicas, citadas no manual, e proximidade com bons consultores da área. O construtor ou projetista pode, também, participar de eventos técnicos e procurar se associar ao sindicato da construção onde a possibilidade de travar conhecimento com uma diversidade grande de atores da construção é maior.  Vale para qualquer tipo de conceito, não apenas de acústica.