Se toda crise traz uma oportunidade, essa é a hora de reaprender a ouvir

A pandemia de Covid-19 transformou a vida de milhares de pessoas pelo mundo. Uma das maiores crises sanitárias da história da humanidade ocasionou o fechamento de locais de convívio, comércio, estudo e trabalho. Mais ainda, obrigou a população ao confinamento em suas casas como proteção à transmissão da doença. Como causa ao isolamento e afastamento social, houve a diminuição do nível de poluição sonora presente nas comunidades modernas das grandes cidades, dando origem a novos fenômenos. Alguns previsíveis, como o aumento dos atritos causados pela má convivência sonora entre humanos presos por longos períodos em condomínios residenciais; outros inusitados, como a presença de animais em locais de alta concentração urbana; e outros tristes, dadas as circunstâncias de uma pandemia com profundos impactos econômicos e sociais.

ProAcústica lança campanha #SonsQueAmo

Em meio a essa conjunção de fatores, a ProAcústica lançou a campanha #SonsQueAmo. A ação tem como objetivo causar uma reação positiva da sociedade como forma de expressão de liberdade frente à imobilidade e ao silêncio. E incentiva as pessoas a gravarem com os celulares vídeos com áudio que expressem os sons que acalmam, emocionam, movem e que cada um mais ama. A ideia foi ampliar uma corrente positiva por meio de postagens via upload ou link do canal Youtube do internauta, diretamente no hotsite da campanha ou, ainda, ser publicado como um feed na rede social Instagram, acompanhado da #SonsQueAmo e marcando @associacaoproacustica. A campanha se estende até outubro deste ano.

O movimento fez parte das ações do Dia Internacional da Conscientização sobre o Ruído (INAD BR), comemorado no dia 29 de abril, e integra o calendário oficial do Ano Internacional do Som 2020/21, organizado pela ICA International Commission for Acoustic, um empreendimento de caráter mundial, a partir de uma resolução da Unesco que reconhece a influência do som no equilíbrio dos seres humanos bem como os impactos econômico, ambiental, social, médico, industrial e cultural no mundo atual. O INAD é um evento mundial de conscientização, que propõe 60 segundos de silêncio a fim de demonstrar o impacto do ruído na vida cotidiana.

Cartilha do bom convívio

Sobre as questões que envolvem as dificuldades do bom convívio sonoro em residências, a ProAcústica está desenvolvendo uma cartilha com dicas de boa convivência sonora em condomínios durante a quarentena de Covid-19. O material irá abordar o problema da ocupação intensa e constante de pessoas em casa por longos períodos e os impactos no convívio sonoro entre vizinhos.

O material a ser produzido pela ProAcústica trará soluções para o home office, com orientações para que as rotinas individuais não impactem as atividades coletivas e não gerem atritos em um momento de isolamento social. Explicará conceitos básicos de acústica em edificações para que as pessoas evitem arrastar móveis, efetuem o mínimo de reparos e consertos possíveis. E tratará da importante questão das crianças impedidas de saírem de apartamentos, tendo elas toda energia para gerar ruídos importunos aos vizinhos. Essas e outras situações serão estruturadas para tentar contribuir com o momento delicado.

Para o advogado especialista em condomínios, Márcio Rachkorsky, que se preparou para o pior durante a pandemia, a surpresa foi que, “em um passo de mágica as pessoas ficaram mais tolerantes, os conflitos, não sei se diminuíram, mas não aumentaram muito. Eu consegui identificar uma consciência coletiva muito grande na maioria das pessoas. Óbvio que houve conflitos pontuais, mas eram casos extremos e no geral a coisa funcionou bem, estou bem orgulhoso”.

Quanto aos principais motivos de conflitos entre os moradores nesse período de quarentena, Rachkorsky elenca desde coisas corriqueiras como barulho de salto, de liquidificador, criança correndo, pequenos barulhinhos, música e vídeo game altos.

Com relação ao desempenho acústico das edificações, Rachkorsky explica, como advogado que cuida de centenas de condomínios, que os apartamentos mais antigos possuem melhor desempenho acústico. “É curioso porque antigamente não existia a Norma de Desempenho mas, ainda assim, a percepção que tenho é a de que nos empreendimentos novos a qualidade acústica é sofrível. Em prédios antigos percebemos muito menos conflito por conta de barulho. Acho que as incorporadoras deveriam ter uma preocupação maior com esse item”, finaliza.