Especialistas, empresários e representantes da sociedade se reúnem no Dia Internacional da Conscientização sobre o Ruído em encontro da ProAcústica
O ruído urbano é um problema crescente no Brasil, especialmente em grandes cidades como São Paulo, onde a população enfrenta impactos diretos na saúde e na qualidade de vida. Para explorar esse tema, a ProAcústica reuniu, no dia 30 de abril, data comemorativa do INAD Dia Internacional da Conscientização sobre o Ruído, especialistas para debaterem os avanços e estratégias que podem impactar positivamente a sociedade, tais como atuar proativamente em questões do ruído urbano, oferecendo soluções concretas para o cumprimento da lei e a promoção da qualidade de vida sonora.


O INAD foi criado em 1996, nos Estados Unidos, pela League for the Hard of Hearing, hoje Center for Hearing and Comunication CHC, para promover o evento mundial de conscientização sobre os efeitos nocivos do ruído na audição, saúde e qualidade de vida. Nessa data, os participantes comemoram planejando atividades em suas comunidades locais que abordem os problemas de ruído mais urgentes.
Foi com o lema da associação, “A vida é melhor sem barulho”, que Luiz Henrique Ferreira, vice-presidente de Marketing, abriu o encontro para um público com executivos de empresas associadas da ProAcústica, líderes do setor e associações representativas da sociedade. “Enquanto empresas e empresários, estamos aqui hoje para que possamos juntos fortalecer nosso mercado”, comunicou Ferreira aos presentes.


O papel da ProAcústica e a trajetória do INAD foi apresentado por Marcos Holtz, presidente da associação. “Desde sua fundação em 2011, a ProAcústica tem sido uma peça-chave na luta por melhorias acústicas no Brasil. A trajetória do INAD reflete essa evolução. O primeiro INAD foi um verdadeiro experimento, sem muitos recursos, mas com uma grande vontade de fazer algo significativo. Fizemos medições sonoras em tempo real e criamos um mapa digital, algo inovador para a época”, relembra.
Ao longo dos anos, a entidade organizou eventos marcantes, incluindo um divisor de águas no Hotel Renaissance, em 2013, onde debates técnicos foram conduzidos com representantes políticos e especialistas internacionais. “Além disso, ações simbólicas, como a instalação de fones de ouvido em esculturas públicas em São Paulo e em Porto Alegre, ajudaram a chamar a atenção para a questão do ruído urbano, com chamadas na mídia internacional”. Finalizando, Holtz reforçou as ações do INAD não são exclusivamente da ProAcústica e acontece no mundo todo. “Nós, ao longo dos anos, como entidade temos contribuído com esse movimento para aumentar a consciência sobre a poluição sonora que nos abate diariamente”.


Com décadas de experiência na área de acústica, José Augusto Nepomuceno, vice-presidente de Atividades Técnicas da ProAcústica, compartilhou com os presentes suas experiências pessoais e profissionais.
Nepomuceno abordou a questão do ruído urbano e sua relação com o bem-estar social, enfatizando que as pessoas “têm o direito de viver em ambientes com padrões acústicos adequados”. Destacou a importância de revisar e atualizar a norma brasileira NBR 10151, “apontando erros históricos e falta de contemporaneidade, como a ausência de definições claras sobre ruído residual e ruído de fundo”. Para ele, a ProAcústica deveria unir esforços para colaborar com a ABNT na modernização das normas, tomando como exemplo normas internacionais, como as da Austrália – que são mais claras e robustas para definir ruído urbano, rural e comunitário.


Entre as principais críticas, Nepomuceno mencionou a falta de consulta aos especialistas em mudanças legislativas e sua defesa de ações políticas para melhorar a qualidade acústica no Brasil, além de um maior envolvimento da associação no debate público para garantir avanços na regulamentação sonora. “A ProAcústica, formada por especialistas e empresas privadas, deveria ter maior influência nas decisões públicas, dado seu conhecimento técnico e foco no bem-estar social”, afirmou.
Ele destacou a importância de regulamentações claras e justas, mencionando que a legislação não deve favorecer empresas que geram recursos em detrimento do bem-estar social. “Entretanto, a falta de consulta aos especialistas em mudanças legislativas e a necessidade de políticas eficazes continuam sendo desafios”.
Segundo ele, eventos como oINADreforçam essa necessidade, reunindo profissionais para debater avanços e estratégias que podem impactar positivamente a sociedade. “A ProAcústica segue atuando para garantir que o ruído seja tratado com a seriedade que merece”, finalizou Nepomuceno.
Debate durante encontro intensifica as discussões
As dificuldades na interação entre o poder público e a sociedade foram os temas mais abordados no debate. Os participantes enfatizaram a necessidade de transformar determinadas discussões em questões de interesse público, evitando que fiquem restritas a círculos privados. Além disso, a rotatividade de profissionais em cargos executivos foi apontada como um dos fatores que prejudicam a continuidade de projetos e parcerias com o poder público.
Outro tema relevante do encontro foi a importância de fortalecer o relacionamento com órgãos governamentais para garantir avanços em infraestrutura. Um aspecto específico discutido foi a paisagem sonora, considerada essencial para o bem-estar social. Marcos Barral, representante do setor de blocos acústicos, destacou oportunidades de aplicação desses materiais em projetos próximos a aeroportos, ressaltando a necessidade de isolamento acústico para minimizar impactos sonoros na população.
A valorização da acústica como diferencial competitivo no mercado imobiliário também esteve em pauta. “O isolamento sonoro tem se tornado um argumento de venda especialmente em áreas urbanas com altos índices de ruído”, destacou Barral. No debate foi enfatizada a importância do cumprimento das normas de proteção acústica em novas construções, reforçando a relevância desse tema para a qualidade de vida dos cidadãos.
A Avenida Paulista, um dos cartões-postais de São Paulo, palco de uma preocupação crescente entre os moradores locais pela poluição sonora causada pelo programa Paulista Aberta, que fecha a via para atividades culturais e de lazer aos domingos e feriados, foi um dos assuntos do debate. Entre os convidados, Marcelo Sando, representante dos moradores que fazem parte da plataforma “Paulista boa para todos” (www.paulistaboaparatodos.org) veio a público e destacou que cerca de 6 mil pessoas, distribuídas em 17 prédios residenciais, convivem há 10 anos com o intenso ruído gerado por bandas com som amplificado, tornando-se um problema de saúde pública. Além disso, a Faculdade de Medicina e de Saúde Pública da USP divulgou um estudo que classifica a poluição sonora da Avenida Paulista como uma emergência de saúde pública.


Segundo ele, o assunto ganhou força recentemente, com o tema vindo à tona na mídia em fevereiro deste ano. Com isso, surgiu uma janela de oportunidade política para discutir novos regramentos que possam minimizar os impactos ambientais da poluição sonora em centros urbanos. A expectativa é que essa regulamentação sirva de modelo para outras áreas da cidade, influenciando futuras revisões na legislação sobre o tema.
Para mobilizar autoridades e a sociedade civil, os moradores criaram a plataforma digital www.paulistaboaparatodos.org, reunindo depoimentos e relatórios sobre a questão. A iniciativa já conquistou apoios importantes. Já com respaldo jurídico, médico e psicológico já conquistados, os moradores buscam agora um apoio técnico para mensurar os impactos do ruído na região.
Para tanto, solicitaram a parceria da ProAcústica e especialistas do setor para mapear o impacto do ruído na região, possibilitando um avanço nas discussões e soluções. “O apoio da associação pode ser um passo essencial para consolidar a proposta e garantir melhores condições de vida para quem mora na região, bem como servir como um exemplo para outras cidades que enfrentam desafios semelhantes”. A ProAcústica na palavra de seu presidente, Marcos Holtz, já oficializou seu apoio institucional, bem como algumas empresas associadas já estão em parceria com plataforma “Paulista boa para todos”.
O encontro foi finalizado por Edison Claro, presidente do Conselho Administrativo da ProAcústica, que mostrou aos presentes, através de seu olhar apurado de viagens feitas pela China, Índia e Japão, imagens com soluções de vedações acústicas para edifícios residenciais. E, ainda, ressaltou a importância do Inter-Noise como um modelo eficiente para troca de referências e intercâmbios para a comunidade acústica.

