Apartamento precisa sair ‘de fábrica’ com proteção acústica; veja o que fazer

Título | Apartamento precisa sair ‘de fábrica’ com proteção acústica; veja o que fazer
Fonte |   Jornal Folha de São Paulo – Seção Morar – 02/04/17
Autoria | Dhiego Maia
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Isolamento acústico é o mais novo item obrigatório que as construtoras precisam garantir nas edificações. Normas pouco conhecidas por moradores determinam que os imóveis tenham um desempenho mínimo contra os ruídos externos e os gerados dentro do condomínio.

A aplicação da norma 15.575, da ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas), atinge as construções projetadas a partir de julho de 2013 e que agora estão sendo entregues ao consumidor.

O problema é que não há fiscalização. “O fiscal é o próprio usuário que, ao notar algo de errado, pode usar a norma para acionar a construtora na Justiça pelo Código de Defesa do Consumidor”, diz o engenheiro Luiz Manetti, um dos autores do texto.

A Abrainc (representante das incorporadoras) diz em nota que o assunto não é tratado pela entidade, porque é algo muito técnico e individual de cada empresa. Enquanto isso, o barulho segue incomodando o sono paulistano. Por dia, a capital acumula 82 queixas de gente irritada com excesso de decibéis emitidos por bares, boates, obras e indústrias, segundo o Psiu (Programa de Silêncio Urbano), da prefeitura.

CÓDIGO DO SILÊNCIO

Como saber se uma edificação está com acústica adequada? “Se você está no quarto ou na sala e escuta tudo o que o vizinho fala, está errado”, diz Marcelo Aquilino, físico do IPT (Instituto de Pesquisas Tecnológicas).

Um projeto de isolamento acústico representa, em média, 0,5% do custo final da obra, diz Davi Akkerman, vice-presidente da ProAcústica (entidade do setor). É esse projeto que quem compra imóvel precisa cobrar da construtora. “Há requisitos muito claros a serem cumpridos, da fachada aos pisos. Antes da norma, as construtoras faziam o que queriam nos projetos”, afirma Akkerman.

Alexandre Britez, gerente da Cyrela, afirma que a incorporadora usa materiais acústicos na obra, mas o desempenho também depende do morador. “A condição interna do imóvel após a ocupação, os hábitos das famílias e as condições externas do local devem ser considerados.”

Boate acústica

Cabine de som que libera até 105 decibéis (equivalente a um show de rock) em boate particular com isolamento acústico de dúplex, no Jardim Paulista (zona oeste de SP) Por: Ze Carlos Barretta/Folhapress SUP 28/03/2017
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Segundo a regra, uma parede que divide quartos de apartamentos distintos deve isolar um ruído de, no mínimo, 45 decibéis (igual ao de uma conversa).

Na fachada, o limite considera a região onde o prédio está. Em locais sossegados, o isolamento deve reter a partir de 20 decibéis. Perto de ruas com tráfego intenso, a proteção mínima é de 30.

Lembra do “crack, crack” dos elevadores? Esse ruído que incomoda os moradores, segundo a ABNT, não deve passar de 37 decibéis. A norma, porém, é branda para sons gerados por impactos contra o piso, como o de passos de pessoas, móveis arrastados e o bater de um bife na pia. São permitidos até 80 decibéis. “É como se o seu ouvido estivesse na cola da rodovia Anchieta. É muito alto”, diz Aquilino, do IPT.

Balada Particular

A indústria tem novas soluções acústicas que estarão à mostra na Feicon (Feira Internacional da Construção), em São Paulo. São produtos que foram usados, por exemplo, na reforma recente de um dúplex, dos anos 1970, no Jardim Paulista (zona oeste).

O projeto acústico da obra custou R$ 22 mil e permitiu ao proprietário erguer uma boate particular de 80 metros quadrados na cobertura. No local há uma cabine de som que gera até 105 decibéis (equivale a um show de rock).

A balada não incomoda nenhum vizinho, diz o projetista José Carlos Giner, porque o espaço “flutua” com o uso de materiais acústicos que não deixam a vibração do som reverberar pelo prédio.

As esquadrias têm dupla camada de vidro. Sob o piso, uma manta ondulada e mais 245 “bolachas” de borracha amortecem o impacto. Nas paredes, foram acrescentados mais 30 centímetros de revestimento que incluem chapas de fibra de vidro. “Ao final, vazam só 45 decibéis para os 500 m² restantes do imóvel”, diz Giner.

Mais modesto, o artista plástico Arthur Lescher, 55, vai gastar cerca de R$ 5.000 na instalação de uma porta e uma janela antirruído para voltar a dormir no 9º andar de seu apartamento, em Higienópolis (centro). “Aqui, o ônibus gera muito ruído, e isso é negligenciado pelo poder público.”

Lescher planeja fazer uma instalação que questiona a poluição sonora na metrópole: um túnel de vidro na avenida Paulista onde as pessoas ouvirão nenhum som externo. “A gente mora numa cidade muito barulhenta que produz gente barulhenta”, afirma.

Em São Paulo, a prefeitura terá que entregar a partir de 2020 um mapa de ruído da cidade. O documento mostrará as regiões com maior índice do problema e norteará quais técnicas construtivas serão usadas nesses locais.