ProAcústica se torna membro associado do I-INCE, dos EUA

Título |  ProAcústica se torna membro associado do I-INCE, dos EUA
Fonte | Portal Obras24horas em 26/09/12 – Entrevista para a jornalista Érica Nacarato, redatora do Portal Obra24horas.
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A ProAcústica, Associação Brasileira para a Qualidade Acústica, tornou-se membro oficial do International Institute of Noise Control Engineering (I-INCE), uma das mais consagradas entidades mundiais na área de acústica. A filiação foi anunciada durante o InterNoise 2012, o mais importante congresso internacional do setor, cuja 42ª edição aconteceu em agosto último, em Nova York (EUA).

Na abertura oficial do evento foi divulgada oficialmente a aprovação da ProAcústica como membro do I-INCE. Durante os três dias do congresso, foram apresentados mais de mil papers e contou ainda com a presença de mais de 1.400 participantes de 63 países, sendo que o Brasil, representado por 42 profissionais de acústica, foi o sexto País com maior participação.

Entrevistamos o Presidente da entidade, Davi Akkerman, sobre a importância desse marco.

Obra24Horas: Qual a importância da ProAcústica ter sido aceita como membro associado do I-INCE, dos EUA?

Davi Akkerman: Na verdade é o reconhecimento internacional da ProAcústica, como associação, por uma das mais importantes entidades de engenharia acústica do mundo. O I-INCE, criado em 1974, congrega profissionais e organizações do planeta relacionadas ao controle de ruídos, acústica e vibrações. O I-INCE é também patrocinador do InterNoise, Congresso Internacional de Engenharia de Controle de Ruído, realizado anualmente nas principais cidades do mundo. O instituto publica ainda uma revista técnica, a Noise News International, distribuída a mais de cinco mil especialistas no tema ao redor do mundo. A principal finalidade é promover soluções acústicas de engenharia para o meio ambiente, cidades, indústria e outros setores. O I-INCE dos EUA é membro do Instituto Internacional de Engenharia de Controle de Ruído.

Obra24Horas: Quais foram os principais passos que levaram até essa conquista?

Davi Akkerman: A ProAcústica, embora ainda jovem com pouco mais de um ano, vem operando ativamente junto aos profissionais e empresas da área e também junto à sociedade em geral com o objetivo de promover a conscientização a respeito dos problemas gerados pelos ruídos nas cidades. Além disso, vem atuando em prol do conforto acústico dos edifícios a fim de despertar a atenção, do setor e do usuário final, a respeito do benefício das soluções de projeto e especificação de produtos e sistemas de isolamento acústico.

Como sabemos a Organização Mundial da Saúde (OMS) já considera a poluição sonora o segundo pior problema que afeta a saúde, atrás apenas da poluição atmosférica. Portanto, nosso papel é disseminar conhecimentos e alertar sobre a questão de forma a preservar a saúde e bem-estar dos cidadãos, por meio de ações como a realização de eventos, seminários, encontros de especialistas e fabricantes, ações junto à população, participação em eventos públicos e de outras entidades do setor, tais como a Asbea, Secovi, Câmara Municipal, Assembleia Legislativa, entre outras.

Obra24Horas: Isso mudará de alguma forma a atuação da ProAcústica?

Davi Akkerman: Sim, pois agora alcançando um status internacional, temos um importante aval para expandir as ações de interesse comum dos associados e da sociedade em geral.

Obra24Horas: Qual é a importância do conforto acústico?

Davi Akkerman: Como pode parecer, o termo conforto, neste caso, não significa “luxo”, mas uma questão que interfere diretamente na saúde e na qualidade de vida das pessoas. Ou seja, o tema do conforto acústico passa a ser fator indispensável na sustentabilidade, que contempla não apenas o meio ambiente, mas também o ser humano e a perspectiva econômica.

Obra24Horas: Como a poluição sonora pode ser prejudicial à saúde das pessoas?

Davi Akkerman: Está comprovado há anos, por inúmeras pesquisas nos países mais desenvolvidos, principalmente na Europa e EUA, que o excesso de ruído é prejudicial à saúde, não apenas por prejudicar a audição, mas por provocar distúrbios do sono e consequentemente fadiga, stress, falta de concentração e até problemas cardiovasculares. Nos Estados Unidos, por exemplo, o ruído urbano sempre foi tratado com negligência, à semelhança do Brasil, geralmente como um assunto relacionado a uma reação psicológica. Porém, hoje em dia, com outra consciência, os americanos reconhecem o tempo perdido e se voltam para campanhas do tipo: “Towards a Quieter America” (Rumo a uma América mais Silenciosa).

Obra24Horas: Como esse assunto vem sendo trabalhado no Brasil e quais progressos já foram observados por vocês?

Davi Akkerman: O tema vem tomando corpo e o interesse em combater a poluição sonora está aumentando. No entanto, ainda de forma lenta e negligente por parte das autoridades públicas. Mas com a revisão das normas de acústica e a entrada em exigibilidade da Norma de Desempenho (NBR 15.575), em março de 2013, o assunto emerge como um dos mais emblemáticos, impulsionando a indústria da construção civil, e toda sua cadeia produtiva. Novos rumos serão trilhados, o que deverá ocasionar uma maior conscientização da sociedade com consequente pressão junto ao poder público e legisladores.

Obra24Horas: Em outros países essa questão é levada mais a sério?

Davi Akkerman: Nos EUA, essa questão não era tão levada a sério, mas recentemente houve uma grande conscientização sobre a questão. Na Europa, esse assunto é tratado de forma muito séria e rigorosa, tanto que, desde 2002, foi aprovada a Diretiva Europeia, conjunto de regulamentações em relação à poluição sonora, que define e obriga todas as cidades com população a partir de 200 mil habitantes a produzirem países seus mapas acústicos, a fim de planejar ações para o combate e controle de ruídos nas áreas urbanas.

Obra24Horas: Quais são hoje as principais tecnologias relacionadas à “qualidade acústica” nas edificações?

Davi Akkerman: Materiais e tecnologias não faltam para promover o conforto acústico. E no Brasil encontramos fabricantes de produtos e sistemas nacionais e internacionais, além de profissionais competentes na área de projeto, embora em pequeno número. Outro ponto importante é que a acústica deve ser pensada desde a concepção do empreendimento, com detalhes e soluções que devem ser previstos em projeto. Acústica não se resolve apenas com materiais isolantes, mas sim com um estudo aprofundado do projeto em equipe.

O problema é que a acústica é um item ainda desconhecido para a maioria das construtoras. Nós realmente temos dificuldade em difundir o conhecimento, que não está muito disseminado e acaba sendo um fantasma sombrio para as construtoras. Precisamos quebrar esse mito de que o conforto acústico, e as novas tecnologias para melhorar o desempenho acústico, acarretam em grandes custos. Isso não é verdade. O principal vetor que impulsionará a qualidade acústica nas edificações no Brasil será a Norma de Desempenho, que exigirá desempenhos mínimos dos sistemas construtivos em relação ao conforto acústico. Consequentemente, diversas tecnologias e novas soluções surgirão.

Obra24Horas: Como o mercado de construção civil enxerga a importância da qualidade acústica hoje?

Davi Akkerman: Pelo pouco conhecimento do assunto e falta de experiência da maioria das construtoras, o mercado vem agindo com certa cautela e até com certa resistência. Mas, com a exigibilidade da NBR 15.575, fatalmente, todos terão de se adaptar. De forma similar, podemos comparar a chegada da Norma de Desempenho, com a obrigatoriedade do cinto de segurança para os condutores de veículos. Na época, todos reclamavam, mas, aos poucos perceberam a importância do cinto na prevenção de consequências piores em caso de acidentes.