Representantes da Abrava falam sobre a necessidade de sinergia entre soluções acústicas e térmicas

O controle das condições ambientais das edificações é determinante para a geração de conforto, qualidade de vida e desempenho profissional para os usuários. Mas, para que os ambientes consigam obter bom desempenho na qualidade acústica e térmica é necessária a especificação de elementos coordenados – produtos, arquitetura e tecnologia -, em uma situação de complementaridade e sinergia para gerar o resultado esperado.

Luciano de Almeida Marcato e Renato Nogueira de Carvalho - Representantes ABRAVA
Luciano de Almeida Marcato                      Renato Nogueira de Carvalho

Para entender um pouco mais sobre a complexidade dessa equação e obter um panorama do status técnico do mercado de refrigeração, ventilação e aquecimento o ProAcústica News foi ouvir dois representantes da Abrava – Associação Brasileira de Refrigeração, Ar Condicionado, Ventilação e Aquecimento: Luciano de Almeida Marcato, ex-presidente do Departamento Nacional de Ar Condicionado Central, na Diretoria de Eficiência Energética; e Renato Nogueira de Carvalho,  ex-presidente do Departamento Nacional de Empresas Projetistas e Consultores e Diretor de Desenvolvimento Profissional.

No contexto do conforto acústico, como a associação enxerga a relação entre engenharia e arquitetura, sistemas de ar-condicionado e soluções acústicas prediais?

A Abrava representa toda a cadeia produtiva, sendo ela a indústria, comércio e o serviço, formada por diversos associados como fabricantes de equipamentos, projetistas e consultores, instaladores e, também, mantenedores. Desta forma, considera importante a relação harmoniosa e a colaboração técnica entre as diversas áreas da engenharia e construção civil buscando, assim, atingir níveis de conforto que atendam às necessidades dos usuários. Sejam eles relacionados à temperatura, umidade e não menos importante a acústica.

Para o DNPC – Departamento Nacional de Empresas Projetistas e Consultores da Abrava, podemos dizer que os arquitetos e colegas de elétrica, hidráulica, estrutura e demais especialidades são nossos parceiros e colaboradores para obtermos o sucesso desejado nos nossos trabalhos.

Qual a importância da participação de especialistas em acústica aplicada a sistemas de ar-condicionado na concepção de projetos da construção civil?

A sinergia entre profissionais de diversas disciplinas tem como meta a obtenção de resultados adequados às necessidades de uma edificação, onde todos os envolvidos têm suas responsabilidades para que o resultado de um projeto seja considerado um sucesso. Em geral, os profissionais do segmento de AVAC (Ar condicionado, ventilação, aquecimento e climatização) têm capacitação para executar projetos considerados “convencionais”, tais como de escritórios, supermercados, shoppings centers, entre outros, com base em boas práticas de engenharia e construção, normas aplicáveis ao projeto e conhecimento técnico.

A aplicação de atenuadores de ruído em projetos e em instalações de sistemas de ar condicionado pode ser considerada corriqueira em todos os tipos de sistemas, ou seja, podemos utilizá-los nas casas de máquinas de condicionadores de ar, em projetos de lajes corporativas, centrais de água gelada e em aplicações industriais. Todos os sistemas precisam ser analisados para evitarmos desconforto aos usuários dos ambientes condicionados, seja por questões relativas ao sistema de ar condicionado (temperatura, umidade, velocidade e filtragem do ar) ou por questões voltadas ao nível de ruído dos ambientes.

Qual a parcela de emissão de ruído, em média, dos componentes de refrigeração em uma edificação?

Devido à variedade de tipos de sistemas e equipamentos de ar condicionado, como residenciais, comerciais e industriais, e a diversidade de capacidades térmicas, temos disponíveis uma grande faixa de níveis de ruído gerados como, por exemplo:

  • uma pequena unidade condensadora de Multi Split  de 36.000 Btu/h, com nível de pressão sonora a plena carga de 45 e 48 dB(A);
  • uma unidade externa com condensação a ar de um sistema VRV de 50 HPs ( 40 TR ) gera entre 64 e 67 dB(A);
  • um equipamento do tipo resfriador de líquidos chiller, com condensação a ar e compressores parafuso inverter de 400 TRs gera potência sonora Lw de 101 dB(A) e nível de pressão sonora Lp de 78 dB(A).

Vale destacar que os valores indicados são orientativos a 1 m de distância e a 1 m de altura, e devem ser verificados na documentação dos fornecedores de equipamentos. Também, podem ser baseados em normas ISO ou AHRI aplicáveis ao tipo de sistema. Isso depende muito do tipo de equipamento utilizado.

Em sistemas de expansão indireta (centrais de água gelada), que ficam em salas onde estão instalados os resfriadores de líquido (chillers) e as bombas é onde temos equipamentos que geram mais ruído. Esses equipamentos podem atingir níveis elevados e, dependendo da proximidade destas salas de outras edificações do mesmo empreendimento ou de vizinhos, os níveis de ruído de 70 dB(A) são inaceitáveis. No caso de casas de máquinas de condicionadores de ar, a condição é ainda mais restritiva, pois essas salas estão dentro dos pavimentos ocupados e, nesses casos, níveis de ruído de 50 dB(A) podem ser considerados como limite máximo.

As normas da ABNT NBR 10152 e NBR 10151 regulamentam os limites dos níveis sonoros internos e externos em ambientes construídos. Como a indústria de sistemas de ar-condicionado trabalha para melhorar o desempenho acústico das construções no país?

A indústria como um todo trabalha em sinergia com seus diversos pares, tais como projetistas e consultores, fabricantes de equipamentos e empresas de instalação. Do ponto de vista do projeto, cada vez mais, é essencial que tenhamos a colaboração entre os especialistas de cada disciplina, pois, do contrário, o resultado final pode ser inferior ao desejado. Sempre que identificamos alguma situação que possa causar impacto sobre o trabalho que está sendo desenvolvido por um colega, procuramos alertá-lo para a dificuldade encontrada e pedimos o auxílio para que as especificações de materiais sejam revistas para atender as condições de operação dos equipamentos. Isso é muito comum quando fazemos a seleção de equipamentos de ar condicionado e identificamos que os níveis de ruído exigem sistemas complementares para atingirmos as especificações do cliente ou as recomendações das normas técnicas e legislações vigentes.

Quanto a NBR 15575, houve um impacto para o setor desde sua introdução?

Sim. Toda norma técnica provoca mudanças e/ou adaptações exigindo maiores cuidados por parte dos projetistas e dos consultores. A especificação de equipamentos acaba sendo revisada para que as recomendações das normas sejam atendidas. No que engloba os sistemas de edificações habitacionais cobertos pela ABNT NBR 15575, devido a  menor penetração dos sistemas de ar condicionado entendemos que parcela importante e considerável dos sistemas de AVAC é composta pelos sistemas de exaustão de sanitários, pressurização de escadas de incêndio e outros importantes sistemas de ventilação e exaustão mecânica dos ambientes.

Com certeza, o estabelecimento e implementação desta norma trouxe avanços à toda a cadeia de suprimentos desde o fornecimento dos projetos, passando pelos equipamentos até os serviços de instalação, operação e manutenção dos sistemas. Por exemplo, algumas construções já contam com modernos sistemas de pressurização de escada com uso de ventiladores de alto desempenho tipo Plenum Fan com acionamento direto, maior eficiência energética e menores níveis de vibração e ruído.

Quais os principais desafios acústicos em projetos de grandes sistemas de ar-condicionado para hospitais, hotéis, auditórios e centros educacionais?

Nem sempre temos condições de escolher a posição que entendemos ser mais apropriada para a instalação de equipamentos como, por exemplo, a escolha de sistemas que tenham níveis de ruído menores e a criação de casas de máquinas em locais que não influenciem no nível de ruído dos ambientes ocupados. Da mesma forma, temos problemas com a instalação de torres de resfriamento que muitas vezes provocam problemas com as edificações vizinhas.

Em projetos específicos como os citados acima e, também, em museus, laboratórios, cinemas e teatros, a colaboração e interação entre clientes, usuários e seus parceiros de projetos construtivos é de grande importância, visando direcionar os critérios básicos de projeto a serem atendidos para aquela necessidade específica. Desta forma, com padrões e critérios mais elevados, os projetos tendem a ser mais completos, utilizando-se de técnicas construtivas mais avançadas, sistemas e equipamentos de melhor desempenho acústico.

Há, também, a necessidade de projetos específicos de conforto acústico quando o correto comissionamento das instalações vai considerar o desempenho acústico que atenda aos requisitos operacionais da edificação. Com isso, o trabalho mais detalhado e feito em conjunto, leva a melhores gerenciamentos dos projetos, com acompanhamento de profissionais especialistas dedicados ao tema e resultados dentro das expectativas desejadas pelo cliente e usuários.

Como a Abrava e a ProAcústica podem firmar parcerias para o desenvolvimento de boas práticas e ações de melhoria de desempenho acústico para o setor de sistemas de ar condicionado prediais?

O DNPC da Abrava tem como uma de suas missões divulgar informações técnicas de boa qualidade, com foco específico em projetos e consultoria de sistemas de ventilação mecânica e de ar condicionado, porém, sem negligenciar as atividades de instalação e manutenção de sistemas. Entendemos que uma primeira interação poderá ser no desenvolvimento de um material técnico, denominado pela associação como Renabrava (Recomendações Abrava), para aplicação e especificação de equipamentos e sistemas de atenuação ou isolamento acústico.

A Abrava e a ProAcústica já iniciaram uma aproximação visando elevar o nível técnico dos projetos e instalações com melhor desempenho acústico. Para tanto, devem trabalhar na elaboração de manuais e guias de projetos e instalações prediais, sejam de exaustão, ventilação ou ar condicionado, para melhor orientação de engenheiros, arquitetos, consultores e instaladores sobre a importância de seguir critérios e boas práticas para se obter resultados operacionais de melhor qualidade. A colaboração mútua em seminários e eventos técnicos conjuntos, também, pode proporcionar excelentes oportunidades de crescimento em ambos os setores.