Este ano, será realizado em São Paulo, entre os dias 24 e 27 de agosto, o 54º Inter-Noise, organizado pela ProAcústica e pelo I-INCE, com o apoio da Sobrac e o incentivo das mais importantes associações de acústica de todo o mundo.

Consoante a tradição do Inter-Noise, a organização da edição brasileira reuniu reconhecidos profissionais associados da ProAcústica, do exterior e membros da academia. O presidente do congresso é o Eng. Davi Akkerman, que tem longa vivência na série do Inter-Noise, e a vice-presidente é a Prof.ª Emérita da Purdue University, Patricia Davies.

O Inter-Noise é atualmente considerado um dos mais importantes congressos internacionais de acústica e o mais relevante na área de controle de ruído. Ele abrange uma ampla gama de temas, incluindo acústica de edificações, ruído de máquinas e instalações, ruído ambiental, vibração estrutural e novas tecnologias.

A primeira vez que o Inter-Noise ocorreu no Brasil foi em 2005. Agora, 20 anos depois, o evento retorna ao país e encontra um cenário diferente: um mercado em pleno amadurecimento, composto por um crescente número de pesquisadores, consultores, estudantes e construtores. Evidentemente, um congresso deste porte exige envolvimento e dedicação, especialmente em um mercado relativamente novo como o brasileiro. Vale lembrar que o Inter-Noise tem uma trajetória consolidada e uma história de grande impacto.

A origem e evolução do Inter-Noise

A história do Inter-Noise está intimamente ligada à fundação do Institute of Noise Control Engineering  (INCE), criado com o objetivo de unir profissionais dedicados ao controle de ruído. O INCEreuniu pioneiros norte-americanos especializados na área e foi fundamental para a disseminação de conhecimentos e avanços na acústica aplicada.

Nos Estados Unidos, a comunidade científica voltada à acústica sempre esteve majoritariamente ligada à Acoustical Society of America (ASA), fundada em 1929. Sendo uma associação interdisciplinar por natureza, a ASA congrega profissionais de diversas áreas, como físicos, engenheiros, arquitetos, psicólogos, fisiologistas, fonoaudiólogos e biólogos. Dada essa multiplicidade de profissionais, há a permanente preocupação e atenção de que ações de grupos ou nichos não impactem a associação como um todo, que, ao longo dos anos, vem prestando serviços excepcionais aos profissionais da acústica não só nos Estados Unidos, mas em todo o mundo.

A década de 1960 foi marcada por movimentos de contestação e transformação, abrangendo artes, política, reconhecimento de comunidades e questões ambientais. O ruído foi definitivamente reconhecido como um agente de incômodo e de impacto à saúde pública.

No final daquela década, a população norte-americana já exigia medidas federais para reduzir os níveis de ruído. Em 1971, foi publicada a regulamentação sobre exposição ao ruído ocupacional nos EUA, conhecida como “OSHA Code”. Em seguida, em 1972, o Reino Unido publicou o Code of Practice for Reducing the Exposure of Employed Persons to Noise (Código de Prática para Reduzir a Exposição de Trabalhadores ao Ruído). No Brasil, a Portaria 3214, lançada em 1978, consolidou o tema da proteção do trabalhador contra agentes de risco ocupacional. O tema relacionado ao ruído, de forma geral, estava em alta em todo o mundo.

Nesta época, estava claro que a ASA não conseguia abrigar os interesses dos profissionais focados no controle de ruído. Foi nesse contexto que William (Bill) Lang, engenheiro acústico da IBM na época, concebeu a ideia de um Instituto de Engenharia de Controle de Ruído. A proposta era agrupar engenheiros da área para serem certificados, realizar reuniões regulares para disseminar novas pesquisas, desenvolver práticas em controle de ruído e aprimorar a literatura por meio de um periódico especializado.

No início da década de 1970, Bill Lang trabalhou com a equipe do Senado americano, em Washington, D.C., nos detalhes do que viria a ser a Lei de Controle de Ruído de 1972, o que resultou na fundação do INCE em 1971, do qual foi membro fundador. Posteriormente, ele ajudou a criar o Instituto Internacional de Engenharia de Controle de Ruído (I-INCE) em 1974 e a Fundação INCE em 1993.

A ideia de um instituto, independente da ASA, foi apresentada aos principais engenheiros de controle de ruído da época, durante um workshop realizado em Nova York, em janeiro de 1971. O convite foi enviado aos mais importantes profissionais ligados ao controle de ruído nos EUA na época, como George Mailing, Paul Veneklassen, Karl Pearson, Uno Ingard, Bob Bruce, Kenneth Eldred, Richard (Dick) Lyon, Leo Beranek, Laymon Miller, entre outros. Esse workshop foi o berço do INCE.

O primeiro Inter-Noise foi organizado pelo INCE e realizado em 1972, em Washington, tendo como presidente o lendário Leo Beranek e o professor Malcolm Crocker como chair técnico. Eram esperados 850 participantes, mas o número final ultrapassou 1.300, demonstrando o impacto e a relevância do evento.

A decisão de colocar à frente do Inter-Noise 1972 figuras luminares da acústica foi fundamental para manter o Instituto e a conferência no mais alto patamar, atraindo a atenção e o apoio de outras associações profissionais e da área governamental. Quando olhamos retrospectivamente para a série de congressos Inter-Noise, vemos que a participação de profissionais notáveis faz parte do DNA do evento, conferindo-lhe credibilidade e robustez.

Logo no primeiro Inter-Noise, ficou evidente para os dirigentes do INCE que não seria possível realizar uma conferência internacional nos EUA todos os anos. Fritz Ingerslev apresentou os planos para o Inter-Noise 73, a ser realizado na Universidade Técnica da Dinamarca, em agosto de 1973. Assim, surgiu a primeira edição fora dos EUA. Em 1974, o congresso retornou a Washington, em organização compartilhada entre o INCE e a ASA.

Em 1974, foi fundado o International INCE, prontamente abreviado para I-INCE. Inicialmente, foi patrocinado e desenvolvido pelo INCE, que passou a se chamar INCE/USA. Desde então o I-INCE é a única organização com abrangência mundial dedicada à tecnologia de controle de ruído. Trata-se de uma história que, neste ano, totaliza 53 reuniões profissionais do mais alto nível, realizadas anualmente em diferentes continentes. Entre 1974 e 1980, ocorreram quatro edições nos EUA e três em outros países: 1975 no Japão, 1977 na Suíça e 1979 na Polônia.

O Inter-Noise tem uma trajetória sólida de 53 anos de sucesso, constituindo uma oportunidade valiosa para troca de conhecimento e estabelecimento de redes de contato entre profissionais. Essa foi exatamente a ideia dos pioneiros fundadores do congresso, que continua viva e ativa.

O registro de artigos iniciou com aproximadamente 100 trabalhos em 1972, chegando a 1.050 em 2012, em Nova York. Em 2021, em Washington, a série manteve-se ativa, mesmo durante a pandemia.

Inter-Noise 2025: um marco para a acústica no Brasil

Ao longo das edições, o Inter-Noise tem registrado avanços significativos na área, incluindo o surgimento dos métodos de análise de intensidade sonora; discussões sobre irradiação sonora de superfícies vibrantes; normatização e homologação; a evolução de normas; novas tecnologias e por aí vai. Muitos destes temas que hoje são corriqueiros, há 50 anos estavam embrionários e registrados nos anais das séries do Inter-Noise.

Organizar e realizar um congresso dessa magnitude é uma tarefa desafiadora, onde quer que seja. O Comitê Organizador lidou diuturnamente com temas complexos e sensíveis, com convites a profissionais renomados, classificação de palestras, análise de resumos técnicos, agendamento de espaços, tour técnico e jam session, para citar os mais evidentes. Tudo isto para oferecer uma experiência enriquecedora aos congressistas e à comunidade científica.

O Inter-Noise 2025 é uma oportunidade excepcional para profissionais da acústica de todo o mundo. Esperamos contar com a participação de especialistas e colegas da área para fortalecer essa valiosa troca de conhecimento.

Autor: José Augusto Nepomuceno, Consultor Técnico e de Exposição do Comitê Organizador do Inter-Noise