Consonância entre arquitetura e acústica promove conforto sonoro no Instituto Moreira Salles

“Transparência e usos simultâneos em um edifício vertical como o IMS, implicaram em diversos desafios para o isolamento acústico. No caso, a fachada de vidro abraça uma caixa flutuante apoiada na estrutura metálica com um núcleo fonoabsorvente que recobre o átrio”, explica Marcos Holtz, arquiteto e diretor da Harmonia Acústica, escritório responsável pelo projeto de acústica do instituto.

Conforto sonoro no IMS advém de plena consonância entre arquitetura e acústica

Diálogo entre estrutura, escolha de materiais e múltiplos usos condicionam os espaços culturais

Na avenida do Masp, do Conjunto Nacional e da Japan House, o novo edifício do Instituto Moreira Salles (IMS) de São Paulo afirma, de dia, a transparência e, à noite, a luminescência como formas de atrair o interesse pelo acervo de imagens, livros e exposições ali guardado. O IMS nasceu em Poços de Caldas, no sudeste de Minas Gerais, em 1992, e mudou da rua Piauí, no bairro de Higienópolis, para a avenida Paulista onde abriga um patrimônio de milhões de fotografias, discos de música, obras literárias e objetos iconográficos; promove exposições de artes plásticas de artistas brasileiros e estrangeiros, além de mostras de cinema. As atividades do IMS são sustentadas por dotações do Unibanco e da família Moreira Salles.


Fotos: Nelson Kon Fotografias

Por tudo isso, o prédio conta com três grandes salas para exposições, um auditório e cinema, restaurante, salas de aula e um átrio de entrada no meio da edificação. “Essa transparência e esses usos simultâneos em um edifício vertical como o IMS, implicaram em diversos desafios para o isolamento acústico”, explica Marcos Holtz, arquiteto e diretor da Harmonia Acústica, escritório responsável pelo projeto de acústica do instituto. Com arquitetura de Andrade Morettin, o prédio “conduz” o visitante a um átrio onde ficam a recepção, a biblioteca e a cafeteria, no pavimento intermediário que corresponde ao quinto andar. No total são 8.662 m² de área construída espalhados por nove andares.


Fotos: Nelson Kon Fotografias

Em nome do máximo conforto, as três salas de exposição foram projetadas com elementos de iluminação dotados de características fonoabsorventes para condicionar os espaços. Nas salas de aula, bibliotecas, escritórios e restaurante, foram projetados elementos de teto escamoteados na laje, além de divisórias de vidro estanques que propiciam extrema privacidade. Os materiais absorventes como espumas ou lãs ficaram escondidas na laje e estão colados ou presos em perfis metálicos.


Fotos: Nelson Kon Fotografias

A fachada foi projetada com base em medições feitas no local e extrapoladas por simulação acústica, para o afinamento na especificação dos vidros e sistemas de fachada. Marcelo Morettin, do escritório de arquitetura, vibrou com o efeito da fachada e chegou a declarar que “à noite, o prédio vira uma lanterna”.

Para o arquiteto de acústica, Marcos Holtz, a fachada de vidro abraça uma caixa flutuante apoiada na estrutura metálica com um núcleo fonoabsorvente que recobre o átrio. “Isso ajudou no conforto acústico pois o painel atua como difusor e absorvedor de ruídos que vêm da avenida pela abertura do átrio”, afirma. O painel perfurado recobre o forro do átrio e sobe até o último pavimento formando um envoltório vermelho que protege as três salas de exposição.


Fotos: Nelson Kon Fotografias

O auditório possui acústica variável, pois pode funcionar como cinema. Foi projetado tanto para apresentações musicais com piano, violão, voz ou quarteto de cordas ou palestras quanto para apresentação de filmes em película ou digitais. Painéis pivotantes (com dobradiças), de um lado, são refletores e, do outro, fonoabsorventes, para alterar o tempo de reverberação, adequando a sala para os diferentes usos.  O isolamento acústico foi pensado para minimizar o ruído de fundo e garantir que barulhos intrusivos não atrapalhem a apresentação, nem perturbem a inteligibilidade da voz. Isso foi conseguido pela utilização de sanduíches de chapas de drywall, portas acústicas com antecâmaras e projeto adequado de lajes.

Quanto ao ruído de impacto, a laje sobre o auditório foi detalhada para atenuar tanto ruídos de passos quanto ruídos mais fortes (os chamados heavy weight impact sound). Mantas para ruídos de impacto convencionais não têm eficiência nesses casos. Por essa razão, foi construída uma laje armada flutuante de 10 cm sobre elastômeros com espessuras da ordem de 5 centímetros. Esses sistemas de elastômeros e barrotes impedem que o impacto da movimentação dos usuários reflita em desconforto para os ambientes do piso logo abaixo.

Diferentes tipos de forração e sistemas de piso foram propostos pela Harmonia junto às outras disciplinas. Com isso, ficou garantido o conforto dos ambientes, sem interferências, mesmo com usos simultâneos e independentes. A propagação de ruído estrutural proveniente de pavimentos superiores aos inferiores foram testados. No caso do auditório, os tempos de reverberação variaram em 0,4 segundo de acordo com a posição dos painéis, dentro da faixa de 0,8 a 1,2 segundos. “Assisti a filmes na sala nos testes preliminares”, diz Marcos Holtz, “e a qualidade de som estava excepcional”.


Fotos: Nelson Kon Fotografias