Nova sede administrativa da Portobello, em Florianópolis, evidencia a sinergia entre arquitetura contemporânea e engenharia acústica de precisão
Ambientes corporativos modernos demandam soluções cada vez mais integradas de condicionamento e isolamento acústico. Na sede administrativa da Portobello, empresa do setor de revestimentos cerâmicos, esse desafio ganhou complexidade ao considerar as exigências estéticas da arquitetura em um ambiente corporativo e o uso de materiais predominantes, como porcelanato e madeira natural.
Assinado pela Pulse Acústica Arquitetônica e Ambiental o projeto acústico – que recebeu 1° lugar na categoria Projetos Nacionais com foco em acústica no 15º Seminário Internacional NUTAU 2024 da FAU-USP - foi implantado numa área de 800 m² em ambientes de trabalho integrados, passíveis de compartimentação, instalado na cobertura do edifício Office Park, em Florianópolis (SC). Como premissas o projeto, focado no conforto acústico do usuário, teve como metas a manutenção da privacidade nas salas de reuniões, o controle do tempo de reverberação e o nível de ruído ambiente, de acordo com as normativas de referência e visando a mínima intervenção estética no projeto de arquitetura.
Para manutenção da privacidade nas salas de reuniões adotou-se um Índice de Redução Sonora Ponderado (Rw) superior a 55 dB para as divisórias opacas fixas e mínimo de 43 dB para as divisórias envidraçadas, portas e divisórias articuladas. O tempo de reverberação (TR) adotado para as salas de reuniões foi de 0,5 segundos e de 0,6 segundos nas demais áreas, visando ainda a manutenção de um nível de pressão sonora residual máximo de 45 dB nas áreas de planta aberta e 40 dB nos ambientes compartimentados.


Metodologia
O projeto foi desenvolvido por meio de simulação computacional e modelos analíticos que utilizaram tanto o cálculo da teoria clássica de reverberação (Sabine e Eyring) como o método por traçado de partículas. Como resultado, foi possível predizer os valores para diversos parâmetros acústicos importantes, o que norteou as tomadas de decisões projetuais para alcançar os resultados desejados. O software utilizado no projeto foi o I-Simpa, desenvolvido pelo Laboratório de Acústica Ambiental da Université Gustave Eiffel.


Estratégias adotadas
Como o projeto foi implantado em um novo pavimento corporativo, construído sobre a laje de um edifício já existente, o primeiro desafio foi o desacoplamento estrutural. “Toda nova estrutura metálica, inclusive telhas de cobertura, foi isolada da laje original por meio de amortecedores de vibração (material resiliente), para quebrar a ponte acústica e atenuando o possível ruído da chuva transmitido aos ambientes. Além disso, em todo pavimento, foi aplicado contrapiso flutuante com manta acústica de material resiliente a fim de minimizar a propagação do ruído de impacto entre os níveis”, afirma a arquiteta responsável, Pollyanna Lima, da Pulse.
Outro tópico incluído no projeto foi o condicionamento acústico dos ambientes. Apesar da predominância de superfícies lisas e rígidas – pisos em porcelanato polido e forros/paredes em madeira natural de tauari – as soluções acústicas foram integradas de forma discreta com a arquitetura.
Para garantir o controle do tempo de reverberação, todo o forro foi dimensionado e detalhado para absorver em equilíbrio todas as faixas de frequências sonoras necessárias. Como o forro original é de madeira natural ripada, totalmente fechada, foi preciso criar um pequeno afastamento, entre elas, com vazios em diferentes dimensões.
Para permitir que o som alcance o entreforro (plenum) foram instaladas placas acústicas dimensionadas para atender a função, solução validada em simulação acústica. Essas placas ficam invisíveis aos olhos dos usuários devido ao efeito de perspectiva gerado pelas ripas de madeira, cumprindo a função acústica de absorção necessária.

Em alguns pontos das áreas de trabalho coletivo foram instaladas nuvens acústicas brancas para otimizar a absorção sonora em pontos de maior concentração e geração de ruídos. (VIDE FOTOS ABAIXO)


As áreas de pequenas reuniões ou descompressão utilizaram forros de gesso acartonado perfurado para controle de reverberação, garantindo conforto sem interferir visualmente no projeto. (VIDE FOTO ABAIXO)

Para resolver o isolamento acústico entre ambientes foram utilizadas divisórias verticais fixas opacas construídas com drywall com composições mistas (placas standard + especiais) e preenchimento interno com lã de vidro. Para ambientes compartimentáveis, foram adotadas divisórias verticais articuladas (móveis) de alto desempenho acústico com vedações especiais e septo acústico até o teto, assegurando estanqueidade sonora.


Projeto arquitetônico: MarchettiBonetti+ Arquitetos Associados
Execução: Cubo Engenharia
Fotografia: Mariana Boro Link para imagens em alta resolução